Ultimamente tem
surgido com uma certa insistência nas redes da vida uma frase atribuída a
Gilbert Chesterton:
“O certo é
certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é errado, mesmo que todos se enganem
sobre ele”.
Às vezes, quem
posta a frase altera uma palavra ou outra, de acordo com a conveniência do que
se pretende cobrar ou de quem se quer acusar, mas, em síntese, é isso.
Parece um lindo
pensamento, uma idéia a ser seguida à risca por quem pretende ser visto como um
ser humano repleto de retidão e princípios morais e éticos.
Só que (aqui
pra nós, que ninguém nos leia) as afirmações não têm realmente nenhum
significado. Errado e Certo são só convenções que variam de acordo com a época,
com o local, com o uso.
Há poucas
décadas, a Lei exigia que se pedisse um alvará, uma autorização pra qualquer
reunião com mais de cinco pessoas. Numa casa com pai, mãe e duas crianças, se
quisessem fazer um bolinho de aniversário pra um dos filhos não havia nenhum
problema. Mas se convidassem o tio e a tia do garoto, tinham que pedir alvará
porque já haveria seis pessoas. Isso era o regulamento, era a Lei, portanto,
era o Certo! Mas a população começou a não ligar pra isso. Ninguém pedia alvará
nenhum. Não dava pra prender todo mundo do país inteiro. Mudou-se o Certo!
Agora o Certo passou a ser façam sua festa aí sem pedir pra ninguém. Liberdade
passou a ser o Certo. Até surgirem os Pancadões! Aí a Liberdade de reuniões
passou a não ser tão certo assim.
Um dia foi
muito Errado as mulheres exibirem mais do que suas mãos e seus tornozelos em
público. Nem mesmo o formato do corpo em exibição, ainda que coberto, era
aceitável. Sofri um acidente aos seis anos e minha mãe foi impedida de entrar
numa Santa Casa pra me acompanhar porque estava, indecentemente, usando calças
compridas. Isso era Errado. Aí as mulheres queimaram sutiãs, vestiram
minissaias, fizeram movimentos, expuseram os seios nas ruas, meu-corpo-minhas-regras
e não teve jeito: mudou-se o Errado. Agora o Errado é cobrir demais o corpo com
alguma coisa que não seja tatuagem.
Portanto, a
vida mostra que o Chesterton era bom de frases de efeito cuja utilidade era
fazer o citante parecer muito culto ou muito digno nos bares boêmios e, hoje em
dia, na redes. Mas o próprio Chesterton disse: “Devo o meu sucesso a ouvir
respeitosamente os melhores conselhos e depois fazer o contrário.”
A História
mostra que o contrário é mais razoável. Quando muita gente insiste em fazer o
que até aquele momento era considerado Errado, a única saída é fazer com que se
torne Certo. O Certo é o que a maioria quer, o Errado é o que a maioria evita.
Está aí a descriminalização da maconha pra provar isso.
O Certo não é permanente
e o Errado não é eterno.
Muito bom texto Nelson. Indagação válida e mais válida ainda a forma como respeitosamente e sabiamente discordou e discorreu sobre a frase. Fez certo, pelo menos por hora.
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