segunda-feira, 16 de novembro de 2015

ANÔNIMOS

Oi, meu nome é Anacleto e eu sou um viciado.
− Oi, Anacleto!
−Ontem foi domingo. Acordei tarde, tomei um banho e fui até a padaria. No caminho, vi passar uma limusine rosa! Enorme! Não fotografei com o celular. Não postei no Instagram. Esperei até chegar em casa e contei pra minha família. Verbalmente. Pessoalmente. Eu, minha mulher e minha filha tomamos café, comemos os pãezinhos que eu havia comprado, todos juntos na cozinha. Conversamos uns com os outros e eu não comentei nada do que falamos à mesa no grupo de whatsapp do trabalho. Fizemos um almoço rápido, sentamos pra almoçar e eu não postei fotos da comida pra contar vantagem no Facebook sobre como estava boa a refeição. À tarde fomos passear no Parque da Água Branca onde vimos um pavão que encantou minha filha, vimos ossos reais de dinossauros em um pequeno museu que tem lá, fomos ao aquário que eles mantêm. Elas se encantaram com os peixes. Depois levamos nossa filha para o parquinho que existe lá. Ela brincou no pula-pula, na pequena roda gigante, em um brinquedão inflável no qual se sobe para despencar escorregando, uma farra! E não postei nem mesmo um comentário desse passeio no Twitter.
Aplausos gerais dos presentes.
− Quero agradecer o apoio que venho recebendo deste grupo e dizer que não está fácil, mas estou resistindo e lutando. Sei que vou vencer. Um dia de cada vez. Só por hoje!
Todos cumprimentaram o Anacleto, fizeram questão de tirar uma foto com ele que seria revelada em papel, emoldurada e pendurada na parede da sala de reuniões e jamais seria postada em nenhuma rede social.
O Antero, responsável pela ida do Anacleto para as reuniões, fez questão de contar a vitória do amigo para os que não tinham ido naquele dia e começou a enviar uns e-mails pelo celular. Houve um mal estar geral. Mas ninguém recriminou. Afinal, uma recaída é sempre uma possibilidade.

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